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Não há noites serenas, cai a chuva
sobre o inverno, duplicidade
que me cativa ouvidos e me incuba
horas que já não são realidade.
o amanhã, o tempo não o escreve
no presente varrido de existência,
nas baias do caminho não se bebe
luta-se sim pela subsistência.
há vazios no espaço e pensamento
onde a emoção termina em precipicio
abrem-se fendas ao esquecimento
há noites perdulárias e o vento
sopra da serra , é esse seu oficio
e dezembro parou frio e cinzento.
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Onde estás meu amor que não te encontro,
ás vezes surges , noite, arrependida,
estendo a mão na memória despida
mas onde estás eu não te reencontro .
nas tuas mãos bebi veias nocturnas,
bebi de ti vinho reparador,
das artérias fiz beijos em alvor,
enlaces em barrancos e em furnas.
seguro no meu vacuo uma lembrança,
de pinhão um postal, fotografia
tirada na estação, junto da via ,
e um grito pungente que me dança
estupido e pregado na poída
matéria, meu amor,que lhe deu vida.
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Felicidade é coisa que se gasta
não se pode arranjar com meias solas,
não percebo a razão porque se arrasta
por sobre ti a dor onde te imolas.
o anterior, que agente não assume
e pretende apagar como se fosse
inexistente , queima como o lume
tal a cegueira que em paralelo trouxe.
queres fugir da verdade na loucura
que te alastra pelos nervos e sentidos
e manter de virtude os teus vestidos,
oh pobre ignorante criatura,
queres afogar o ser que traduziste
no turbilhão da alma que pariste.
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Quando recordo aquele bote antigo
onde encontrava as mãos cheias das tuas
julgo que falta o tempo desse abrigo
que suportava vidas que eram duas
.
traziamos pedaços de marés
intervalos de nós buscando rumo
abismos precipícios sob os pés
numa coluna a que faltava o prumo
.
depois vinham gaivotas na vazante
da água que espelhava o teu olhar
em minutos e horas dum instante
e ali se te lembras em segredo
esquecido o redor da beira mar
a vida se beijava , expulso o medo.
Que furacão te atormenta os sentidos
nas fibras esmigalhadas de viver
que vontade e demência de sofrer
os momentos felizes e vividos?
que tortura te esmaga por que sorte
pretendes imolar-te no pecado
e recusar o corpo caminhado
se não há outro mais que te conforte?
quanto me deste tu de belo e nobre
quanto te dei !! que crónica padeço
da falta do amor que eu agradeço.
não chores mais , levanta-te , caminha
desobriga o teu deus , que sorte eu tinha
se o teu amor não fosse o meu tropeço !
Por muito que tu queiras, eu não esqueço
disse-te muitas vezes, sendo assim
levarei teu olhar até ao fim,
mesmo para lá daquilo que conheço.
não está comigo alterar a vontade
que te rasga na dor e sofrimento,
que se colou ao próprio sentimento
que te nutria e é uma saudade.
não está comigo desfazer raizes,
as horas, os minutos, os felizes
momentos ébrios da nossa exaltação,
seguramente em mim não está matar-me,
apenas aceitar ,sublimar-me
enquanto não me para o coração.
Será loucura o que te arrasa o peito
ou desejo brutal de sofrimento,
porque te esqueces no esquecimento
do teu mundo pequeno e imperfeito?
que castigos germinas nas artérias
onde te corre sangue e respirar,
para te desfazeres a duvidar
de experiências de amor, simples, sérias?
que prazer te condena e dilacera
a carne já de si dilacerada,
para te sacrificares ferida, magoada,
como vítima atroz,cega e austera,
em vida que fazes de vagabunda
no pensamento inutil que te inunda.
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Verdes tileiras da infância antiga,
sombras nos dias tórridos de agosto,
penumbra fresca , ainda hoje abriga
meus restos de matéria e do meu rosto.
nessas belas manhãs de crença pura,
quando tudo mudava por mudar,
a vida era serena e a loucura
não era mais que rir ou mais que ousar.
velhas tileiras, velhos monumentos,
de tanta vida que por ali passou
quando o amor rasgava pensamentos
e era ignorar o maior bem,
eram idade , só o tempo mudou
e com ele mudamos nós também.
Tranquilos os caminhos da floresta
eivados de silêncio, adoro te-los
nos recortes do sol que se desperta
pela manhã de poeiras a tece-los.
a frescura do dia é um afago
no outono amarelo, nos carreiros,
um abrigo de mim por onde trago
pensamentos na luz dos castanheiros.
domina-me a mudez pelos sentidos
a esquecer vontades sem regresso,
frustrações e recalques ressequidos
e velhas emoções onde me impeço,
os desejos e sonhos escondidos
que o coração descobre e eu não peço.
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A noite não me sobra, acordo nela
e deixo-me ficar como que em vão
olhando a ténue luz que da janela
cruza a parede e se espalha no chão.
considero-me apenas um sumido
grão de gene falhado , mutação
frágil como a cigarra e resumido
a sindroma fugaz de negação.
na noite que me sobra o sonho vive
entre estar e não estar ,o sonho vem
e traz-me a incerteza que já tive
como me tráz a dor que me mantem,
na impossivel parte do meu mundo
abismo do pecado ,onde me afundo
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