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Não sei onde me passa essa ribeira,
mas ouço-a a cantar no vale dos fetos
também é voz, um som, uma maneira
de me lembrar de sonhos e afectos.
a água canta algures nos seus regatos,
ela é infância que passou assim,
canta tardes, auroras, canta actos,
e faz-se em emoções dentro de mim.
canta a serra, os valeiros, as estradas
batidas pelo pó e pela lama,
lembra o vento a soprar por sobre a cama
aberta ao madrugar pelas portadas,
o nevoeiro esbarra na paisagem
a fazer parte da minha viagem.
Non voglio essere poeta , scrivente
é quello che io sono , scritore tranquilo
di fonemi ed idee un creatore
di lettere combinate, di profilo.
poeta non lo so, il poeta crolla
si fa nella rovina sognatore,
io, sensa capello, anche la parola
mi manca nel mio stilo ingannatore
potrei essere técnico di inchiostro
mi piacciono le penne, tracciare
sillabe correndo sul foglio estinto
estinto sia il foglio al ritornare
lo riscriveró perché vada e senta
di essere libero , libero di volare.
Deuses, eu falo em deuses livremente
como se fosse um deles , se o fosse
seria obra de genes, uma mente
a perguntar por mim, o que me trouxe ?
que oráculo teria, em qual altar
me adorariam no reluzente orgulho,
que fariam do meu acreditar
ricos e reis, a pobreza , o entulho?
que deus seria eu nesta fornalha
de luta visceral de morte e vida
na misera matéria onde se talha
a porcaria e droga que nos lida,
a roleta infernal onde a canalha
não tem mais que nascer e despedida ?
Fizemos tanta vez do nosso quarto
grande palácio, apenas num hotel,
fizemos tanto amor, que hoje me aparto,
do ter-mos feito um quarto de bordel.
inconsciente , á noite, esta virose
esculpe-se em mim ,sem arte e sem cinzel,
não fui eu que acabei nossa hipnose,
só tu quizeste, só tu foste infiel.
tanta virtude á vista convencia,
porque tu tudo querias sem o querer,
quantas vezes fomos a albergaria
esculpir os corpos nús, homem , mulher,
fazer amor, amor que pertencia
ao mundo que eu não queria, de qualquer.
Reconstruo as imagens no passado
criando imagens nelas no futuro,
um agora real, ultrapassado,
um agora depois, ’inda imaturo.
imagem por imagem, complexa
e esbatida chapa emocional,
não é o amanhã cópia reflexa
é um ontem talvez , cópia real.
será a nossa mente, ela labora
a partir de sinapses neurais
relativiza a massa que incorpora
fotocópia, disparos e sinais
talvez tudo o que pensa e elabora
sejam sonhos em aparência iguais
Procuro mesurar correctamente
a fonte da razão do teu impulso,
o precursor neural que foi a frente
do acto intemporal que veio avulso.
foi percurso moral de ser pleno
ou transmissão mental desacertada,
má leitura e registo dum aceno
numa psique já danificada ?
se pudesse ser um laboratório
e medir na epiderme a energia
talvez algum sinal premonitório
de ti chapasse numa radiografia
ou foto isolada em promontório
de Sagres , pôr do sol, no fim do dia.
O morto estava quente e esticado
sob um lençol , na estrada, no exacto
local onde expirou, empacotado,
fora de si a ponta dum sapato.
amachucado era e era preto,
com a biqueira aberta, língua em gato,
misturada no som obsoleto
de ambulância em inútil aparato.
descobriram o morto ,estava morto,
voltaram a tapa-lo, ali ficou,
aconchegado á berma e absorto
na morte em que a vida o transformou,
coberto pelo lençol e pelo desgosto
duma mulher que entretanto chegou.
Se morasse na casa de Colombo
de pedras rubras, becos e quintais
podia imaginar um barco, um rombo
no mar tirreno abaixo , no seu cais.
de Cristóvão Colombo , o genovês,
resta uma velha casa
talvez tenha nascido ali , talvez
e dali aprendido a marinhar.
janela gradeada, um esqueleto,
porto que rota o fez talvez sonhar,
é hoje ali escondido um gato preto
capitão e herdeiro do seu lar,
talvez superstição , um amuleto
espontâneo tal qual o meu passar
Dormia com a mão na tua coxa,
gostava de mexer por ti, anseios,
de te puxar , sentir-te, minha trouxa,
sem falso soletrar sobre os teus seios.
depois pensei comprar um astrolábio
para te levar ao mar de Siracusa,
não foi feliz ideia, não fui sábio,
ficaste duvidosa, até confusa.
subi ,via Pompei e Erculano
e Roma, de feição morena , etrusca,
acabei em Madrid , no castelhano
passeio de Alcalá , onde fiz busca,
para te levar um dia daquele ano
mas já estavas perdida , louca, brusca.
Aquela madrugada foi tão louca,
olhos nos olhos dados, tanto amor,
calei na minha boca a tua boca
torturada em crescendo desde Alvor,
sorvemos a loucura, em tempo pouca
compensada em paixão e em fervor.
na época passavas e se eu era
escutava a buzina e o meu ser
automático abria numa espera
donde emergia antes de acontecer.
aquela madrugada que fizemos
fotocópia da nossa intimidade,
que fizeste depois do que nos demos
de tanto amor, tanta cumplicidade ?
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