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A baía desdobra-se, contornos,
que o mar tirreno faz ,crepuscular
luz peneirada em vilas, em adornos,
campanários, no dia a soçobrar.
barcos aguardam no entrar do porto,
outros saem, deixam traços no mar,
tão polido e sereno , que absorto
passo os dedos na água para a riscar.
cabos e enseadas vem a pique
de Santo Hilário á pequena maré,
nada no mundo há, que justifique
o não sentar-me á mesa dum café,
a gravar na memória quanto fique
dum paraíso, se é assim que ele é.
Gostava de ter sido o que não fui,
para fazer de mim experimentação,
saber como é que nasce e evolui
o que do não saber é condição.
gostava de trepar copas antigas,
e abranger a vista que se frui,
do principio, saber suas intrigas
depois como tudo isto se conclui.
gostava de viver e ter sentido
do que há no torturar ,obrigação,
que me assusta o caminho percorrido
numa sentença atroz ,porque razão ,
este lugar vazio, desabrido
é vida, inferno, tormento e extinção!?
Não quero que me leiam estas rimas
que me ocupam o tempo, o tempo tem
vantagens de apagar como os climas,
vestígios que ficaram de ninguém.
são cinzas de emoções, até enzimas
mal mastigadas ,fluxos, mantem
virus de amaciar, como se as limas
alisassem sem nos ferir também.
é vomitar constante, afinidades,
instantaneos que não são de ninguém
restos inconsequentes das idades
que percorri ,Lisboa, Santarém
Roma ou Paris, Madrid, frugalidades
que se ausentaram e ás vezes vem.
Hoje ao debruçar-me na esplanada
da passeggiata Anita Garibaldi
tu passaste por mim vestindo nada
daquilo que te dei, tudo debalde.
quando me apercebi que essa cegueira
já nada tinha dos coitos no algarve
podia ter-te morto, era asneira
matar-me a mim também pelo teu alarve.
foi tudo alma gentil, tua maneira
de peneirar o sonho um dia á tarde
colocando ao pescoço uma coleira
livre mas de prisão, julgas que guarde
sobre o teu fim medos da vida inteira
num coração que te explode e arde.
Evadir-me se nem sequer estou preso,
prender-me, me prendi e desprendi ,
agora livre , sem volume ou peso,
como evadir-me se nunca me evadi ?
porém sem ter prisão que me suporte,
sinto algemas, correntes , alibi ,
o tempo é guarda, vida e mesmo a morte,
são argolas com que me prendo aqui.
quisera sim fugir, na plenitude
que a ilusão esconde atrás de nós,
elos duma cadeia ou da virtude
de nos sentirmos antes, não após,
depois que o espaço tempo nos ilude
e ficamos mais perto de estar sós.
Ancoravas em mim perdida, tonta,
era teu porto de navegação,
como num paraiso que desponta,
te despontavam juras de paixão.
oferecias teu corpo á maré viva,
sedenta, louca, em nossa inundação
apertavas-te em mim, eras cativa
do meu olhar, de amor e doação.
beijava os lábios, seios, colo , ardente
posssui-te inteira em minhas mãos
e penetrava em ti suavemente
até gemeres convulsa em erecção
perdida, escarranchada e indolente,
julgava que ao sabor do coração.
Quantas vezes te abriste aos meus enleios
alvoroçada ao simples roçar
da leveza dos dedos pelo teus seios
acetinando a pele no teu olhar.
quantas vezes meu corpo abriu a porta
e te afastou as pernas para entrar,
abandonada , amante e absorta
na ternura do nosso murmurar.
quantas vezes te olhei, nos olhos doces,
no extase final do nosso amor,
quantas vezes te olhei ,como se fosses
a divindade erguida num altar,
quantas vezes sonhamos no calor
que nos absorveu depois de amar !
Mais do que nós não podemos fazer,
nós fazemos apenas o que temos,
fizemos deus, fizemos sem o ver,
e sem o ver temos o deus que vemos.
fazemos sonhos, sonhos imaginários,
de tudo isso que está dentro de nós,
associando ideias, corolários,
de inteligência e não vivermos sós.
no centro da viagem, viajantes
do espaço sideral que nos ocupa
vamos moldando o que nos preocupa
em erros e em passos adiantes,
para conquistar a liberdade á frente
talvez possivel , para toda a gente.
De mãos abertas procuro na palavra
a forma , o equilibrio , a diferença
mais simples , banal , pequena lavra
ás vezes uma silaba de crença.
a palavra foi a primeira mãe
que se encontrou connosco, foi dizer
um grito, um sim á tuba que contem
a nota que se expõe ao entender.
existo , penso , escrevo, requisito
a letra eventual em liberdade,
no âmago da mente e no esquisito
labirinto chamado humanidade,
a palavra é um som que retransmito
convencido da sua utilidade.
Na mesa do café sou o restolho,
um alentejo seco , amadurecido,
o que está para colher já o não colho
e ás vezes chego e colho adormecido.
e chamo o empregado , um café cheio
saboreado ao sol, sabe-me bem
a cada gole que bebo fico alheio
e de mim próprio alheio-me também.
sobre a cabeça um pequeno boné,
que adquiri na feira do Baião
a crise sobre a mesa, um livro que é
do novo crash uma explicação,
que eu ando a ler e que me tira a fé
se é que a tenho, na civilização.
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