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Não eras ode, eras o que trazia
do berço , talvez gene programado
sugestão ou uma alegoria
um jeito de ser pobre , ajuizado
e não eras real , eras retrato
sinal, indicação no caos vigente,
embrião imaturo e abstracto
em transição de morte e emergente.
era sábado á noite ou sexta-feira
duma vida depois, um entretém
de restos e memórias de maneira
a aligeirar o mal que nos sustém
e esquecer os passos na canseira
de caminhar um pouco mais além.
Flor de sabugueiro é branca e renda
de bilros, filigranas e noivado
e renasce em Abril , é uma prenda
um perfume e um corpo aliviado.
flor de sabugueiro é larga e fina
toalha de virtude e de pureza,
e quando nasce é frágil, pequenina
recortada a cinzel pela natureza.
flor de sabugueiro é estendida,
mesa de mais, soberba refeição,
sedutora e gentil , sem ser comida
amena e leve depois da ingestão,
um dia me fiz mesa e fiz guarida
numa ponte em Ucanha, de emoção.
Este mar bate em veios do basalto
na serena manhã , despida espuma,
cargueiros estacionam mais ao alto
a água sobe por coisa nenhuma.
vazio é o passeio e esculpido
nas curvas permanentes, recalcadas,
o barco da Sardenha está surgido
no fundo horizontal de águas paradas.
e há velas pequeninas onde o vento
empurra com fulgor, correm ligeiras
saem da praia e vão cada momento
a deslizar fragilidade inteira
mas voltam e revoltam , mais de um cento
velozes na segura brincadeira.
Há barcos neste mar como formigas ,
pequenos, a pescar, em águas puras,
outros rasgam gigantes, as antigas
cartas gregas do Egeu e singraduras.
o sol desliza ,faz-se em espelho oculto
que horas levam tempo a celebrar,
Ulisses surge, e Circe e espreita o vulto
de Polifemo ,em pedra sobre o mar.
e deuses presenteiam sonhos , tragos
de paraísos de Afrodite, amor,
das ilhas do prazer nascem afagos
em velas de Poseidon , redentor
das caricias , do mel onde divago
as loucuras dum outro, Adamastor.
Solitário em visão que me deixaste
debruço-me em regresso, porque foi
que numa tarde o norte abandonaste
e essa tarde vem por vezes, rói .
porque foi que a agulha magnética,
que na bússula tinha orientada
desnorteou numa tarde patética
e se desfez em pó, depois em nada ?
e porque me pergunto ainda agora
nos fios dos meus dias pendurado,
porque razão fugi ,surdo, calado,
e tu fechaste a porta e vim embora,
duvido hoje se então seria a hora
de terminar o tanto começado.
Oh nascente das águas e meu berço,
da dúvida do veio onde me escondo,
emerges quente , emerges neste terço
de pulsar no silêncio dum estrondo.
tão profunda na essência quanto espero
em cada dia o teu sorriso aberto,
escorres pelos meus dedos quando quero
rebobinar-me em anterior concerto.
não desces a cantar os meus ouvidos,
não te sei libertar da escravidão
abstrata, trazes subtraídos
os valores que te deram condição,
oh nascente de mim , dos meus sentidos
gravada nos meus esteios da ilusão.
Levantei-me do todo ignorado
perguntei-me o que sou, senão o mito
desenvolvido em genes no passado
surgindo no presente com um grito.
minha mãe agarrou-me, em paralelo
com sua própria génese e sorvi
da terra o material, humano selo
de quem percorre o espaço aqui,ali.
sem entender raízes prometidas
numa vez de razão me procurei,
em interrogações incompreendidas.
oh incomoda alma ,eu encontrei
nada em parcelas,poucas, divididas,
entre aquilo que fui e o que serei.
Interrogar a noite , a madrugada,
a chegada do astro, o seu virar,
os deuses que se mudam pelo nada
entre outros muitos sois a ressonar.
interrogar a terra húmida, fria,
a calote que vai á luz buscar
sua força e raiz que distancia
cada vez mais poder ao nosso olhar.
interrogar tanta esfera vazia
indistintas em tanta dimensão
deixar vir a manhã e outro dia
outro nascer, morrer, na solidão,
instinto vagabundo, que seria
se não houvesse tanta interrogação ?
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