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Hoje, no Porto Antico , que distância
me separa de ti, aqui tão perto,
aqui onde me escondo descoberto
como se fosse o mesmo da infância.
aqui onde me abrigo num concerto
que a vida nos reserva no seu caos
vejo barcos entrar que não são naus
mas gigantes do mar , ou do deserto.
a cidade murmura em circunferência
metade terra outra metade mar,
passeio num dos cais minha insolência
entre partir para nada ou o ficar,
entre a nudez da minha transparência
que já nada mais tem para me enganar.
Os anos passam a imagem fica
impressionada,único momento
da porta que ao abrir identifica
o relicário do velho convento.
nada se fixou , o tempo foi
continuando breve, acontecer
afastou-se de vez e nada doi
arquivado, que não seja esquecer.
o teu chapeu dizia-se chapeau
e em Montrouge estavamos no verão
era tudo diferente do que sou
restos com outros restos, expansão
dum mar extinto que se evaporou
e não deixou herança nem perdão.
Na cidade das flores , ressuscitar,
não é milagre , apenas poesia ,
o Arno corre, lento, leva ao mar
quem pela Ponte Vechia se anuncia.
nas flores da cidade , o renascer,
vive na criação , tudo se cria
nos arcos ou nos corpos de mulher
até na Piazza della Signoria.
da bailarina turca , despedida
a dançar-nos o ventre entre as arcadas
entre o sorriso, o tule e o despida
na graça do seu corpo soletradas
em movimentos lentos que tem vida
feita de tantas coisas e de nadas.
Passeio-me pelo cais, escuro, vazio
na noite suas sombras, silhuetas,
furtivas e velozes, casario
a leva-las ao longe incompletas.
alguma luz perdura nos carris,
pelo comboio que vem, ainda demora,
sento-me em bancos nus, pelos perfis
da luminosidade algures que lembra a aurora.
talha-se pelo silêncio que se escuta
o ar que corre , perfume inebriante
duma ideia que vem absoluta
para desaparecer no mesmo instante
e o trem que se aproxima é a cicuta
de insegura viagem , inconstante.
Parti hoje para ontem , sexta-feira
e vou chegar a algures no meu passado
no fim desta viagem, a primeira
vou-me encontrar comigo , em qualquer lado
diferente na idade e na maneira
em conversa de tempo programado.
vou ao então , ao espaço de algibeira
vazia de riqueza que era ausente,
tinha de bom somente vida inteira
que o self garantia á minha frente.
vou pela saudade e uso o meio veloz
que transporta em quakers de corrente
por via tele , corpo mente e voz
para me encontrar ontem, no presente.
Ah, como mudaste as mãos pequenas
e o olhar que me era encantador
ou o cetim de face que hoje apenas
mostra o que o tempo foi demolidor.
ah, como enrugaste a pele enxuta
donde transparecia o interior,
e sucumbiu a paz que se desfruta
nas promessas da vida e do amor.
como podes beijar o teu embuste
e mascarar-te de outra, de qualquer
e regressar, por pouco que te custe
ás dádivas dum corpo de mulher
sem que tudo se adapte e ajuste
á verdade que em nós se mantiver !
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