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Foi nesta tábua, talvez de metro e dez,
um verdadeiro banco do Buçaco,
que te abracei um dia , alguma vez,
subtraindo o peito ao teu casaco.
o beijo que então demos fez tremer
o horizonte em toda a dimensão,
o primeiro do corpo, o aprender
os afectos que havia em confusão.
assustados, receio de ninguém,
que a razão , sem razão, faziam ver
no banco tosco, humilde, nos contem
o desejo de tanto amanhecer,
quando esse começar , era também,
nossa coisa mais bela de viver.
Oh ondas deste mar qual o navio
que me leva, se fosse viajar,
era num barco á vela pelo estio
em órbita de areia, a bolinar.
tão longe é o areal, que vou remando
pelos limites que são os pinheirais,
mais seco, só deserto, ás vezes quando
se fragilizam sonhos irreais.
desfraldo o pano , de norte vem chegando
vento que sopra leve e temperado,
aperto-me no tórax ,soltando
da memória simbólico passado
e uma gaivota grita e olho e ando
no mar sereno , apenas naufragado.
Tombou-se-te a cabeça por quê mãe
por que quebrou o fio que trazias
mal agarrado ao mundo tu sabias
tal qual como da noite o dia vem
por que partiste assim por que fixaste
o futuro depois para além de mim
quis dar-te a minha mão não seguraste
quis dizer-te que não disseste sim.
eras aroma sal e erva doce
que tinha a morte em ti para expiar ,
gostavas de sorrir e acabou-se
da cadeira a ternura e o rodar
nosso mito ruiu a luz fechou-se
até que eu próprio perca o teu olhar.
O presente presente não existe,
disse Pascal e com toda a razão,
talvez seja o passado que persiste
em busca de futuro em construção.
o presente é instante, já passou,
quando se pensa nele é já passado,
é a plataforma onde ficou
o passo do futuro anunciado.
o presente é constante decisão,
não se pode parar, não há paragem,
apenas fotogramas da visão
transmitidos lá dentro da engrenagem ,
talvez tudo nem passe de ilusão
e o próprio mundo seja uma miragem !
Da mesa, quartos, porta, da cozinha,
conteúdo de pedra rendilhada,
o principio do sonho ,uma adivinha
que muito tarde surge escancarada.
a fuga que faz parte ,os olhos mudos
na luta a descoberta e ambição
de trocar a existência pelos miúdos
presumidos duma libertação.
se eu fosse artista cinzelava-te o rosto
em bronze, como génio ,numa praça,
a ti , que te partiste com desgosto
saudoso dos teus laços , carapaça
colocada nos ombros ,com o posto
de procurar algures melhor desgraça.
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