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O tempo não, o tempo não me falta,
nem o relógio, nunca prometeu
fosse o que fosse, além desta ribalta
e ás vezes penso ser o tempo eu.
mas não, não posso ser, talvez partícula
do eu, do tempo, do espaço circundante
e acabarei na figura ridícula
em que nasci , no pó e no instante.
quando isso for , o tempo vai comigo
ou eu com ele , se o tempo for contado,
mas eu creio que não, quando for sigo
como cheguei , só e desesperado,
a não ser que viver fosse castigo
e eu , além de tempo, condenado.
Sou apenas poeta imaginário,
não existo , não sou matéria, aqui
sou ás vezes eu próprio , outras contrário
e não sei qual dos dois chama por ti.
mas sei que tu existes, és imagem,
e toca em mim tua respiração,
és a janela aberta e a viagem
passa por ti, acenas com a mão.
livre, furtiva , nuvem , aventura
da palavra e da frase , afirmação
de qualquer ontem ,apenas espessura
que de mim, em papel, trago na mão
usando liberdade que é clausura
quando a clausura é libertação.
Ganhamos um colóquio, coloquiamos
entre laços que somos, harmonia
estabelecida algures , por isto vamos
desafiando a nossa fantasia.
abrimos a torneira que fechamos
não sei dizer aonde, o que seria
saber dos acidentes que geramos
no comprido percurso, dia a dia!
damos as mãos acerca das palavras
ditas com profundeza e solidão,
arranhamos os campos e as lavras
ao gritarmos por nós sem condição,
eu esperando de ti por que me abras
e tu fechada a abrir tua ilusão.
O mar não é o Tejo , mas tem margens
e um sonho de ti , de sal e vida,
talvez por isso o mar me traz imagens
num vento de carícia adormecida.
nós vivemos o tempo, não o espaço
de nossa condição e cumprimento,
ao beijo que te dou com embaraço
junto meu coração e pensamento.
e quando a noite cai e antevejo
na louca teimosia, o sonhador,
eu sonho nos teus lábios dar um beijo
como se fosse teu descobridor
de impossível voltar e no desejo
murmurar-te ao ouvido, meu amor !
A memória parou, olhei para ti
onde não estavas, onde não havias,
onde fugiste ou onde te fugi
por estradas sinuosas e vazias.
estende-se no meu mar, o mar é meu?
o mar que é meu é de simbologias,
tem portos e tem praias mas só eu
lhe posso referir as simetrias.
a brisa sopra , a folha escaramuça,
é folha que desfolha o pensamento
numa vela latina que se aguça,
da ilha de Elba no sabor do vento,
enquanto o sol fenece , água soluça,
tantas memórias, apenas um momento !
Aguardo na paragem do autocarro
por ti ,não sei se vens nem a que horas,
tenho os traços gravados, são o barro
dos sorrisos que ás vezes ainda choras
há um muro intransponível, isolado,
que afasta o meu chegar e quando vem
viaja no seu tempo, mastigado
no muito que é de nada e de ninguém.
aguardo na paragem, tabuleta
sobre um alpendre velho, anunciado,
raspado no destino na discreta
letra de pó comido , desgastado
na duvida dum fim, obsoleta
figura que me espera, do passado.
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