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Onde fizemos tanto amor, esqueço,
foram mil os locais, não escolhidos,
porém dos corpos não, desses padeço
presentes que não foram devolvidos.
vinhas do mar , do mar salgado, bruma,
seios que amaciava nos meus dedos,
beijos que a tua boca, talvez espuma
nos acordava íntimos segredos.
sorvíamos calor , passo após passo
tuas coxas ferventes minha cama,
eram próprias de mim , eram pedaço
duma rodilha em cântaro de lama,
éramos todo o mundo e um regaço
de vida , apenas vida e uma chama.
Que vento sopra e neve cai ! Manhã
que se desmonta e veste de cinzento,
da janela observo e me contento
tossindo sob o meu cachecol de lã.
saio, atravesso a rua e num momento
empurro a porta da tabacaria,
cigarros e jornal, lixo, mania,
tóxico da rotina e pensamento.
hoje, segunda feira, clonada,
como és injusta incómoda ciência,
que de mim fazes massa e transparência
fotão, carbono e água destilada,
um morrão no cigarro e paciência,
vento que sopra a neve, cai , mais nada.
O que me leva é o vento que passa
o que me empurra és tu, tempo perdido,
o que me chama ,nada , satisfaça
ou não o que me julgo era devido.
o que me grita é chuva que me grassa
por sobre um esqueleto ressequido,
ela me encharca, o mito me ameaça
e tudo deixa então de ter sentido.
e pasmo, surdo a deus, por mais que faça
levantar-me do corpo adormecido,
não sei se sou estrutura de carcaça
se castanheiro velho, oco e despido,
silêncio de ninguém que me embaraça
inerte, ignorante , ou esquecido.
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