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O meu país é mar e comedoiro
fugaz, escancarado e sem sustento
é barril de galego alma de moiro
o meu país é um adiamento.
o meu país é fossa, sumidoiro
a quem lhe quer é brusco e é tormento
espantoso milagre , ancoradoiro
é a deriva que o traz ao vento.
o meu país tem face inacabada
por mão de artista não de timoneiro,
o rumo que persegue é na coutada
de si próprio, carrasco , prisioneiro,
o meu país que é tudo não é nada
não passa de um quintal todo porreiro.
Batia o sol na força dos teus braços
teus cabelos soprando o arvoredo
o coração pulsava eram compassos
nosso promíscuo olhar na manhã cedo.
muitos dias paravam no destino
lugar de encontro que se fazia a sós,
não sei se eram o mundo, se o divino
quando nada existia além de nós.
depois perdi os olhos e trancada
a porta aberta ,ela deixou de abrir,
esqueci-a no bater de outra morada
no estranho esplendor doutro sorrir,
mas não posso dizer que não é nada
o que ficou e não pode sair.
Já não existe a rua nem o ser
do eu que o teu olhar então fazia,
o tempo destroçou o seu parecer
dentro só restam sombras, agonia.
todo o caminho é feito de paragens,
umas mais cheias outras mais vazias
entre elas, muitas vezes nem imagens
se vislumbram nas agressões dos dias.
abre-as o sonho, é certo, raramente,
para outros patamares que são passado
mas tudo se mudou, tudo é diferente
o teu olhar em mim , está desfocado
embora guarde algures, inconsciente
o entre nós que foi , sonho e pecado.
São paredes de rocha dilacerada
nem se lhes pode discutir o ser,
são existência e são também o nada
são um olhar mas não o entender.
são tão visíveis como a virgindade
que a natureza guarda no seu peito,
não possuem diário nem idade
vestem-se nus e de prumo direito.
nascem ervas, flores, vida perdura
em extremos de perene criação
granítica matéria que a brancura
ora esconde em abraço ou em prisão,
na talha da razão vive a cintura,
que lhes rodeia toda a solidão.
Quem nasce na maré , contra os rochedos
diariamente faz seu existir
com o berço no mar, mama nos medos,
ondulação na cama de dormir.
na bússola, sem norte, os seus enredos
afoga no remar que lhe há-de vir,
há-de tremer-lhe a terra e ter nos dedos
a luz que dum farol pode emergir.
e quando a maré cheia se arregaça
dos baixios da praia em tempestade,
encosta o corpo ao fundo da barcaça,
na deriva da sorte e da vontade,
na confusão dum naufrago que abraça
o último baú da tempestade.
O meu verde , em Setembro, é amarelo
cacho de uvas ao sol que se matura,
na ladeira do rio ou no rabelo
que já no céu azul se não figura.
o meu verde, em Setembro, será mosto
mosto e ferver que vem de aluvião,
rosa como o dizer que tens no rosto
e te retrata a alma de feição.
o meu verde em Setembro, atormentado
pelos sons dos violinos outonais
vindima-se da terra e do pecado,
restos de verão, de sonhos, nada mais,
rubro como o calor , ou refrescado
pelo alegre canto dos teus ais.
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