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Passei por ti Inês como quem passa,
e tu , pedra de Ançã, estás onde estás
com a trança caída, eterna graça
eterno amor Inês, que nos desfaz.
face serena a que tens no rosto,
assim te cinzelou o escultor,
não te rasgou no coração desgosto
nem cinzelou a morte, mas amor.
olhas o campo, verde, cego e nu,
que no Mondego faz a mesma cama
da teia da paixão, mas não és tu
lembrança ali postada no teu drama,
já não és só amor de Pedro o Cru
és amor dum país que vive e ama.
Não me chames aquilo que não sou
poeta, que poesia é que há por mim ?
rimo umas letras porque sou assim
um rimador que nada mais rimou.
morrem também no meu retorno ao fim
breve olvidar de quem aqui passou,
versos, quem os não fez, os não cantou
quando a flor que nasce é um jardim?
não me chames poeta, a poesia
se alguma vez me foi tinta na pena
foi só pelo teu olhar, que não me acena
como acenou ao tempo em que o vivia,
só fui poeta então , por simpatia
e por amar teu rosto de morena.
O dia terminou o sol desceu
em rubros tons por sobre o Atlântico
a massa o fez puxar , desapareceu
leveza do silêncio em breve cântico.
aconteceu , longe , pela distância
duma ilusão que o mundo pode ser,
tomba no horizonte desta ânsia
que nos acode á alma sem se ver.
por fim a terra fez-se sol no mar
na gémea luz celeste dum partir,
parte para algures ,nem sempre com voltar
um dia o sol que parte há-de seguir,
quando assim for eu levo o teu olhar
no veio que a negrura há-de sumir.
Perdi dias e noites nos teus braços,
cingi teu corpo fino de ampulheta,
amei com amor feito de embaraços
beijei por ti inteiro, o planeta.
cortei depois o tempo em sonhos idos
que de tua razão têm marca em vida,
alguns que me cinzelam em gemidos
outros que não tem fome mas guarida.
com o sossego intimo, gravados
de sorte que nem sei se são ou não
um acervo comum de condenados
ou um maduro fruto de estação,
o ser é feito de ossos e passados
ressequidos na berma da ilusão.
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