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E vós tágides minhas que de aperto
me levais Tejo fora noutra rota
me haveis de dar da pátria infima nota
para que de longe, algures, me sinta perto.
pois que sendo este mar tão descoberto
desde o zarpar á ilha mais ignota
mais frouxo é o saber e mais remota
a sorte do percurso vago e incerto.
navegantes sem bussula e sem prumo
no marear as cartas de improviso
debitam-se em queixumes e sem rumo
as pimentas , os ouros , o juizo,
que se agitam as naus, ardem sem fumo
promessas para atingir o paraiso.
Do silêncio interior arde-me sede
e das ânsias mil gritos estrangulados,
recuo aos meus limites de parede
e os sinos dobram, secos e pesados.
tão pesados na Sé que deixa o largo
como deserto em pedra de calçada
e o apoio do chão, inquieto, amargo
hesita no torpor duma passada
é meia noite, o lampião flutua
quando lhe sopro para não se mexer
e a luz, cai na janela , cai na rua
e na regra que marca o amanhecer
e sigo por ninguém , que nem a lua
espreita do céu para me receber.
Sombreei os teus olhos sombreados
como pinturas que de rosto são,
nem sempre como queria , destinados
á loucura da nossa possessão.
remexi o teu corpo numa crença
o que te segredei deusa o ouviu
embebido na chama da pertença
teu colo, ao meu segredo ,mais se uniu
disse-te amor, de instintiva cartilha
em beijos repetidos de prazer
chamei-te de princesa , mãe e filha
chamei-te o que chamei e deve ser
bebendo sobre a taça da partilha
o vinho do teu corpo de mulher.
Não sou pintor de rosas com perfume
como gostavas e te conheci
leve e ligeira, flor de fogo e lume
e procurei a vida assim ,em ti.
porém as coisas são todas correntes
mudáveis como a proa dum navio
que busca rumo em águas imprudentes
e a remar entramos num vazio.
não peço agora ao ignoto vir
que não chegou a ser, coisa nenhuma
em cada porto há barcas a partir
outras que chegam no rasgão da espuma,
tudo é chegar, viver e repetir
as passadas do tempo, uma por uma.
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