Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
O barco vai pela tarde e leva o vento
desfraldado na vela assobiando
imagino o rasgar que canta quando
de mim lhe sopro para lhe dar sustento.
é alva e de algures está empurrando
força que a impele a barlavento
da margem, indo nele, me contento
porque real o estou interpretando.
e o barco de continuo corta a espuma
que me faz estar parado preso ao leme,
abrindo mãos não há coisa nenhuma
por mim, de viajante é que me treme
o corpo de além margem que se apruma
na prata que batendo , volta e geme.
Amei em ti o corpo e a imagem
imagem feita em mim do teu olhar
e quando se apagou, a carruagem
vazia a vi na rua , a afastar.
incompleta e livre esta viagem
á vista de ninguém veio a ficar,
talvez seja só eu, de mim miragem
para qualquer depois não há lugar.
quão estrita é a fina tecedura
envolvendo o torpor crepuscular
divago na razão, que razão pura
ardendo na fogueira do meu mar,
o lume existe aceso , assim perdura
real somente em meu imaginar.
O comboio desliza no sentido
do ignorar a próxima estação
dentro, das anteriores, há o esquecido,
sombras de medos, desagregação.
mas haverá sentido no sentido
que não existe, não possui direcção,
viver a vida sem a ter possuído
ser dela posse engano e ilusão ?
as árvores e os rios passam breves
montes correntes em fios de linha
soam rumores, caniços, passam sebes
a obscurecer a quem caminha
também do vento os sopros voam leves
dobrando falsa luz que se avizinha.
Nesta margem de mar igual e espuma
onde refaço força e pensamento
busco um olhar, o teu, e uma a uma
desfolho-te as palavras como vento.
é astrolábio que me manda e ruma
no tempo da distância e do momento
e o vazio treme ao sol que a bruma
deixa por ti nascer num mar sedento.
suponho então beijar , amor, castigo,
por ter um bem diferente doutro bem
não em qualquer lugar mas em abrigo
num estar sem estar ,num ter que se não tem
é por isso que ás vezes estou contigo
outras vezes porém, não há ninguém.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.