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Tu que suspiras sobre o teu retrato
de tanto suspirar não o coordenas
estão-lhe a nascer negras rugas no trato
e torce-se a moldura nas empenas.
puxo do tempo o sorriso ,insensato
que sou no improviso entre dezenas,
fúrias, desejos, um querer abstracto
pó que na alma se desfez em penas.
nem sempre de desprezo ou de ciúme
de culpas, embaraços e receios,
nem sempre a emoção ou o perfume
mas sempre esses sorrisos, eu amei-os,
guardo o retrato como guardo o lume
dos beijos que fazia pelos teus seios.
Pergunto-me quem sou, pobre mania
de mim que sou um brusco e frágil ser
nunca seria mar ou penedia
habita-me o meu pouco conhecer.
por tal, reconhecendo a própria via
cérebro e mente sem a saber dizer,
não sei da rota que me desafia
nem do deserto que me faz mover.
saudoso dum domingo e da lembrança
avolumada em dados no arquivo
o corpo ora experimenta e ora avança
sou dele agente e dele sou cativo
se me pergunto é que ainda me dança
o verbo ante o não ter definitivo.
Caminha por aí, fora do rumo
quando tudo acabou , copos vazios,
o tempo esfarrapou-te nos seus fios
o pêndulo parou , caiu a prumo.
tão breves os momentos de atavios
e se foram os sonhos num resumo
a vida ardeu, evaporou-se em fumo
amigo, no inverno dos teus estios.
partiste, não morreste, que a seguir
a via não tem outra alternativa
resta-nos a memória consentida
do vinho que não há para repartir
segues para além do hoje e do devir
levas adeus, não levas despedida.
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