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HOJE
Vou pelo mundo sem saber que mundo
encontro na manhã que se aproxima
um universo espesso e tão profundo
como a luz que de baixo vem de cima
Avanço devagar que vou calado
silencioso andar do ser que sou
caminho o meu lugar por qualquer lado
ignorando o sítio por onde vou
Sabendo ousar haver sonhos pequenos
cobrar dos afazeres necessidades
logrando saber mais, sei que sei menos
vestido no meu fato de saudades
o tempo da mudança sabe menos
porque há menos mentiras, mais verdades.
Neve de Goteborg que me tens
reduzido ao que sou frio calado
a janela da rua os armazéns
um olhar comedido camuflado
ficou mais noiva a noiva da cidade
no manto que entretanto se refez
árvores que a noite faz claridade
barcos que se recortam no convés
leva-me a floresta os pensamentos
que os percorro só silenciado
neve que cai por mim por uns momentos
a maior parte cai por todo o lado
eu próprio vou calcando movimentos
umas vezes andando outras parado.
A revolucão passou pela avenida
expondo os estandartes desfraldados
vento dando nos panos levantados
pela banda da cidade precedida
o deus Poseidon riu do pedestal
habituado ao cíclico aparato
os discursos os gritos e o ato
o mesmo términus na internacional
quarenta anos vivos de glórias
não cumpridas na esperança persistente
porque só esta existe descontente
das promessas banais alienatórias
a revolta foi fama apenas histórias
para enganar a fé de toda a gente
Desta alegria canta a aparência
canta o poeta eterna partitura
a natureza e a manifesta essência
do primeiro vestir de criatura
escreve poeta agita a turbulência
na emotiva peça da loucura
canta as flores e vive a insolvência
da substância amarga da aventura
canta e sublima a voz da primavera
que se refaz seara criativa
canta o sol o perfume a atmosfera
os princípios do acaso que é a vida
canta poeta o sonho e a quimera
que da morte regressa renascida
O muro que me separa de mim
alto e silencioso ao comprimento
multiplica-se e fecha-se sem fim
volta sempre á origem do meu senso
tem portas que não abrem nem as penso
odorosos perfumes de jasmim
são o que são e soltas no meu lenço
fechadas e seladas são assim
e sei que sendo eu pequeno e breve
como mínima parte do cordão
tomo e deixo as soleiras ledo e leve
como efémera bola de sabão
na pequena existência que se deve
a poeiras e pó de combustão.
Abri a porta ao dia entrou o vento
o eclipse foi-se não o li
chegou nevoa tapou o firmamento
e sem luar do tempo me esqueci
eram dez da manhã consentimento
dum olhar sobre as órbitas perdi
do exato lugar o seu momento
á hora que contou abstraí
foi para não ver o sol que me embriaga
berçário do meu sonho tutelar
não sou da luz um filho mas a praga
que qualquer astro rei espalha no ar
particula do fim que aquece e esmaga
o momento fugaz deste lugar.
Quando me deito e deixo o dia atras
ou espero a noite que não sei quando vem
quero agarrar a luz e ser capaz
de prolongar fotões que me mantém
ocorrem-me á memória coisas fúteis
desenho pela mente corpos beijos
minguar que há do prazer dias inúteis
mistura sem concerto de desejos
clareia em luz um circulo a lua
faixa de luz reciclada aos molhos
rebenta grades que separam a rua
dos teus cabelos brancos dos teus olhos
e sem parar a vida continua
sem arredar o lixo nem os escolhos.
Está frio muito frio o dia é este
gelam os ossos de quem morre e tu
que não pediste para morrer morreste
mais gelada que o dia amargo e cru
escrita do tempo diz que tudo é breve
neste universo em expansão constante
e o que nasce o seu regresso deve
ao vazio e ao nada a todo o instante
está muito frio hoje o dia é peste
que forja o triste adeus nesta partida
reservo a companhia que me deste
nas letras do poema à despedida
sejas matéria escura azul celeste
espera por mim no congelar da vida.
Se fossemos amantes quanto amada
seria a tez que tens , cumplicidade,
quanto acrescentaria a coisa dada
aos motes do prazer e da vontade
se fossemos amantes libertada
a tua rosea face e branco seio
seria infindo aquilo que era nada
nesta surda paixão que em mim refreio
se fossemos raiz dessa aventura
tida por nós , mantida ,ah pois sim creio
seria eterna a chama e a loucura
se fossemos amantes e enleio
de corpos nus na alma ,na figura,
não restos dum encontro de permeio.
De regresso ás ondas,de retorno ao mar
a barcos parados de mareação
sentado na praia estendo o divagar
pelas serenas águas e sonhos que são
O sol vespertino que gira incendeia
a linha quebrada dos montes ao rubro
e eu, o que faço , agarro a sereia
que trago comigo e dela me cubro.
saltita nas pedras no branco da espuma
são gotas de pérola no seu cintilar
num raio de sol batendo na bruma
na gávea dum barco que vai a passar
e a noite cerrada, de parte nenhuma
sorrindo se espalha pelo meu olhar.
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