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Como um agrimensor tomo as medidas
com cuidados formais de bem fazer
apesar de saber por mim vividas
as animicas musas a ceder
tudo tem o seu ponto, as enseadas
nem sempre são perfeitos areais
pois se há tudos no ser também há nadas
sonhos contados,outros irreais
caminho minha via sem espavento
a cada hora ou dia sufragado
se afrouxa na largura do momento
a história do futuro ignorado
o presente de cada movimento
tem o devir a ele já colado.
HOJE
Vou pelo mundo sem saber que mundo
encontro na manhã que se aproxima
um universo espesso e tão profundo
como a luz que de baixo vem de cima
Avanço devagar que vou calado
silencioso andar do ser que sou
caminho o meu lugar por qualquer lado
ignorando o sítio por onde vou
Sabendo ousar haver sonhos pequenos
cobrar dos afazeres necessidades
logrando saber mais, sei que sei menos
vestido no meu fato de saudades
o tempo da mudança sabe menos
porque há menos mentiras, mais verdades.
Correm por mim as horas os minutos
os dias debruçados e assim
errado julgo o caminhar sem fim
na conta destes dias dissolutos
me pergunto e duvido e nada sei
se acaso toco acima um infinito
cego de olhar surdo no próprio atrito
matéria ignorante onde pasmei
e dispo-me no tempo onde atravesso
a ruela vazia aonde moro
mudo de humor caminho do avesso
ás vezes não me sinto nem ignoro
sou um fio perdido do começo
a poeira dum pó, um pêlo, um poro.
O meu país é mar e comedoiro
fugaz, escancarado e sem sustento
é barril de galego alma de moiro
o meu país é um adiamento.
o meu país é fossa, sumidoiro
a quem lhe quer é brusco e é tormento
espantoso milagre , ancoradoiro
é a deriva que o traz ao vento.
o meu país tem face inacabada
por mão de artista não de timoneiro,
o rumo que persegue é na coutada
de si próprio, carrasco , prisioneiro,
o meu país que é tudo não é nada
não passa de um quintal todo porreiro.
Já não existe a rua nem o ser
do eu que o teu olhar então fazia,
o tempo destroçou o seu parecer
dentro só restam sombras, agonia.
todo o caminho é feito de paragens,
umas mais cheias outras mais vazias
entre elas, muitas vezes nem imagens
se vislumbram nas agressões dos dias.
abre-as o sonho, é certo, raramente,
para outros patamares que são passado
mas tudo se mudou, tudo é diferente
o teu olhar em mim , está desfocado
embora guarde algures, inconsciente
o entre nós que foi , sonho e pecado.
Rende-se a terra à fraga, não a expulsa
e eu , ao vento, não o posso parar,
também se rende a regra á coisa avulsa
como o meu coração ao teu olhar.
e rende-se a montanha quando pulsa
do céu a tempestade e o nevar
e o deserto ao brilho que da ursa
lhe dá a noite em cada cintilar.
sendo todos irmãos na natureza,
a força , a fraga ,o vendaval , o amar,
porque se apaga a chama que anda acesa
em ti que não evitas naufragar ,
rendilhada excepção , subtileza
de barca que recusa navegar.
Flor de sabugueiro é branca e renda
de bilros, filigranas e noivado
e renasce em Abril , é uma prenda
um perfume e um corpo aliviado.
flor de sabugueiro é larga e fina
toalha de virtude e de pureza,
e quando nasce é frágil, pequenina
recortada a cinzel pela natureza.
flor de sabugueiro é estendida,
mesa de mais, soberba refeição,
sedutora e gentil , sem ser comida
amena e leve depois da ingestão,
um dia me fiz mesa e fiz guarida
numa ponte em Ucanha, de emoção.
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