Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Como um agrimensor tomo as medidas
com cuidados formais de bem fazer
apesar de saber por mim vividas
as animicas musas a ceder
tudo tem o seu ponto, as enseadas
nem sempre são perfeitos areais
pois se há tudos no ser também há nadas
sonhos contados,outros irreais
caminho minha via sem espavento
a cada hora ou dia sufragado
se afrouxa na largura do momento
a história do futuro ignorado
o presente de cada movimento
tem o devir a ele já colado.
Quando me deito e deixo o dia atras
ou espero a noite que não sei quando vem
quero agarrar a luz e ser capaz
de prolongar fotões que me mantém
ocorrem-me á memória coisas fúteis
desenho pela mente corpos beijos
minguar que há do prazer dias inúteis
mistura sem concerto de desejos
clareia em luz um circulo a lua
faixa de luz reciclada aos molhos
rebenta grades que separam a rua
dos teus cabelos brancos dos teus olhos
e sem parar a vida continua
sem arredar o lixo nem os escolhos.
Está frio muito frio o dia é este
gelam os ossos de quem morre e tu
que não pediste para morrer morreste
mais gelada que o dia amargo e cru
escrita do tempo diz que tudo é breve
neste universo em expansão constante
e o que nasce o seu regresso deve
ao vazio e ao nada a todo o instante
está muito frio hoje o dia é peste
que forja o triste adeus nesta partida
reservo a companhia que me deste
nas letras do poema à despedida
sejas matéria escura azul celeste
espera por mim no congelar da vida.
Três séculos e meio , cedro antigo
tanta idade a viver sem um queixume,
tantos ossos queimados, tanto lume
de tanta geração sonhado abrigo.
tu que escutaste frades e poetas,
navegantes e reis e bailadores,
testemunhaste sofrimento , amor,
talvez de sábios, santos e profetas.
chamam-te S. José , mas não és santo,
és cedro, bem melhor e serpenteias
acima do teu mundo envolto em teias
do corpo que te envolve em verde manto,
mas por baixo és esqueleto aplicado
já com aço e cimento, segurado.
Uma vereda, escada ou um carreiro,
o musgo do natal amontoado
em abismos de pedra ou num terreiro
aberto ao sol que espreita amedrontado.
selva da ramaria onde se estreita
o caminho da reza na verdura
que já foi o silêncio que ainda espreita
os nossos passos lentos pela clausura.
na floresta que se alonga, inteiro
percorro a natureza que é também
um pedaço dum deus e de ninguém.
a abundância de nada é um viveiro
a busca que se faz nada contém,
mas é em simultâneo casa e mãe.
Uma vereda, um banco apodrecido,
o musgo, um tapete acomodado
ás pedras , que são chão e são tecido
onde percorro o corpo interrogado.
um ramo, inconsciente, é imperfeito
na sua simetria dilatada,
e eu sinto-me livre , mas sujeito
á alma muitas vezes algemada.
se no banco dormir,uma chalupa
me desperta nas sombras das ramagens
por sonhos que já tive em catadupa,
com duas velas, única maneira
de fazer transportar-me por viagens
deitado numa tábua de madeira.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.