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Como um agrimensor tomo as medidas
com cuidados formais de bem fazer
apesar de saber por mim vividas
as animicas musas a ceder
tudo tem o seu ponto, as enseadas
nem sempre são perfeitos areais
pois se há tudos no ser também há nadas
sonhos contados,outros irreais
caminho minha via sem espavento
a cada hora ou dia sufragado
se afrouxa na largura do momento
a história do futuro ignorado
o presente de cada movimento
tem o devir a ele já colado.
A cidade são pedras e calçada
velhas e largas a mostrar canais
transeunte perdido entre os demais
vasculhei cores janelas e arcadas
da nudez da sereia mais que usada
cravei uma tuborg a marginais
e visitei Cristiana onde entre os quais
te vi em liberdade pincelada
não tenho rei não vi nem tenho margem
tão enganado como estou sou vida
por ela recusei-me sou viagem
pedaços de chegada e de partida
entre ladrões exerço vadiagem
esse é meu ermo e minha despedida.
O muro que me separa de mim
alto e silencioso ao comprimento
multiplica-se e fecha-se sem fim
volta sempre á origem do meu senso
tem portas que não abrem nem as penso
odorosos perfumes de jasmim
são o que são e soltas no meu lenço
fechadas e seladas são assim
e sei que sendo eu pequeno e breve
como mínima parte do cordão
tomo e deixo as soleiras ledo e leve
como efémera bola de sabão
na pequena existência que se deve
a poeiras e pó de combustão.
Abri a porta ao dia entrou o vento
o eclipse foi-se não o li
chegou nevoa tapou o firmamento
e sem luar do tempo me esqueci
eram dez da manhã consentimento
dum olhar sobre as órbitas perdi
do exato lugar o seu momento
á hora que contou abstraí
foi para não ver o sol que me embriaga
berçário do meu sonho tutelar
não sou da luz um filho mas a praga
que qualquer astro rei espalha no ar
particula do fim que aquece e esmaga
o momento fugaz deste lugar.
Quando me deito e deixo o dia atras
ou espero a noite que não sei quando vem
quero agarrar a luz e ser capaz
de prolongar fotões que me mantém
ocorrem-me á memória coisas fúteis
desenho pela mente corpos beijos
minguar que há do prazer dias inúteis
mistura sem concerto de desejos
clareia em luz um circulo a lua
faixa de luz reciclada aos molhos
rebenta grades que separam a rua
dos teus cabelos brancos dos teus olhos
e sem parar a vida continua
sem arredar o lixo nem os escolhos.
Está frio muito frio o dia é este
gelam os ossos de quem morre e tu
que não pediste para morrer morreste
mais gelada que o dia amargo e cru
escrita do tempo diz que tudo é breve
neste universo em expansão constante
e o que nasce o seu regresso deve
ao vazio e ao nada a todo o instante
está muito frio hoje o dia é peste
que forja o triste adeus nesta partida
reservo a companhia que me deste
nas letras do poema à despedida
sejas matéria escura azul celeste
espera por mim no congelar da vida.
Hoje na madrugada que findou
ouvi os sinos da torre da igreja
pulei do sono onde ainda estou
num terramoto que me fere e beija
depois do áureo e frio amanhecer
deste inverno sedento esfomeado
o que de resto veio a acontecer
foi prosseguir sonhando e acordado
espécie sem horário num vazio
dum caos de pensamento introspecção
na deriva do senso e desafio
ás leis que nos parecem e não são
fixei tarde o sol no pau do fio
metamorfose fresca da razão.
Por muito que tu queiras, eu não esqueço
disse-te muitas vezes, sendo assim
levarei teu olhar até ao fim,
mesmo para lá daquilo que conheço.
não está comigo alterar a vontade
que te rasga na dor e sofrimento,
que se colou ao próprio sentimento
que te nutria e é uma saudade.
não está comigo desfazer raizes,
as horas, os minutos, os felizes
momentos ébrios da nossa exaltação,
seguramente em mim não está matar-me,
apenas aceitar ,sublimar-me
enquanto não me para o coração.
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