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Neve de Goteborg que me tens
reduzido ao que sou frio calado
a janela da rua os armazéns
um olhar comedido camuflado
ficou mais noiva a noiva da cidade
no manto que entretanto se refez
árvores que a noite faz claridade
barcos que se recortam no convés
leva-me a floresta os pensamentos
que os percorro só silenciado
neve que cai por mim por uns momentos
a maior parte cai por todo o lado
eu próprio vou calcando movimentos
umas vezes andando outras parado.
A cidade são pedras e calçada
velhas e largas a mostrar canais
transeunte perdido entre os demais
vasculhei cores janelas e arcadas
da nudez da sereia mais que usada
cravei uma tuborg a marginais
e visitei Cristiana onde entre os quais
te vi em liberdade pincelada
não tenho rei não vi nem tenho margem
tão enganado como estou sou vida
por ela recusei-me sou viagem
pedaços de chegada e de partida
entre ladrões exerço vadiagem
esse é meu ermo e minha despedida.
Quando me deito e deixo o dia atras
ou espero a noite que não sei quando vem
quero agarrar a luz e ser capaz
de prolongar fotões que me mantém
ocorrem-me á memória coisas fúteis
desenho pela mente corpos beijos
minguar que há do prazer dias inúteis
mistura sem concerto de desejos
clareia em luz um circulo a lua
faixa de luz reciclada aos molhos
rebenta grades que separam a rua
dos teus cabelos brancos dos teus olhos
e sem parar a vida continua
sem arredar o lixo nem os escolhos.
Está frio muito frio o dia é este
gelam os ossos de quem morre e tu
que não pediste para morrer morreste
mais gelada que o dia amargo e cru
escrita do tempo diz que tudo é breve
neste universo em expansão constante
e o que nasce o seu regresso deve
ao vazio e ao nada a todo o instante
está muito frio hoje o dia é peste
que forja o triste adeus nesta partida
reservo a companhia que me deste
nas letras do poema à despedida
sejas matéria escura azul celeste
espera por mim no congelar da vida.
São paredes de rocha dilacerada
nem se lhes pode discutir o ser,
são existência e são também o nada
são um olhar mas não o entender.
são tão visíveis como a virgindade
que a natureza guarda no seu peito,
não possuem diário nem idade
vestem-se nus e de prumo direito.
nascem ervas, flores, vida perdura
em extremos de perene criação
granítica matéria que a brancura
ora esconde em abraço ou em prisão,
na talha da razão vive a cintura,
que lhes rodeia toda a solidão.
Não quero ser a imagem que tenho
eu quero ser apenas o que sou
não o que sei que sou, nem donde venho,
nem porque vim, irei ou porque estou.
este é um problema da gramática
da lógica, razão, fisico quimica,
teorema esquisito em matemática
ou até um só gesto numa mímica.
eu sou um ser de vida , porquê vida
e não se chama outra coisa vulgar ,
os meus genes fizeram-me, atrevida
a vida, onde me passo a perguntar,
o que sou eu se apenas quero ser,
aquilo que não sou ? esse é meu ser ?
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