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O muro que me separa de mim
alto e silencioso ao comprimento
multiplica-se e fecha-se sem fim
volta sempre á origem do meu senso
tem portas que não abrem nem as penso
odorosos perfumes de jasmim
são o que são e soltas no meu lenço
fechadas e seladas são assim
e sei que sendo eu pequeno e breve
como mínima parte do cordão
tomo e deixo as soleiras ledo e leve
como efémera bola de sabão
na pequena existência que se deve
a poeiras e pó de combustão.
Abri a porta ao dia entrou o vento
o eclipse foi-se não o li
chegou nevoa tapou o firmamento
e sem luar do tempo me esqueci
eram dez da manhã consentimento
dum olhar sobre as órbitas perdi
do exato lugar o seu momento
á hora que contou abstraí
foi para não ver o sol que me embriaga
berçário do meu sonho tutelar
não sou da luz um filho mas a praga
que qualquer astro rei espalha no ar
particula do fim que aquece e esmaga
o momento fugaz deste lugar.
Se fossemos amantes quanto amada
seria a tez que tens , cumplicidade,
quanto acrescentaria a coisa dada
aos motes do prazer e da vontade
se fossemos amantes libertada
a tua rosea face e branco seio
seria infindo aquilo que era nada
nesta surda paixão que em mim refreio
se fossemos raiz dessa aventura
tida por nós , mantida ,ah pois sim creio
seria eterna a chama e a loucura
se fossemos amantes e enleio
de corpos nus na alma ,na figura,
não restos dum encontro de permeio.
Frágil e velha barca se adormeço
me vou por ti sem leme e sem rumar
nos atilhos do cais sem endereço
finjo ser o partir sou o ficar
sem bussola na bruma onde me esqueço
de onde é o norte e a estrela polar
navego o nevoeiro denso e espesso
nas memórias que tenho a naufragar
rasgo do vendaval a violência
desprovida de vento e de razão
já marujo não sou nem experiência
nem o delírio à solta dum tufão
regresso sem partir á procedência
sobre o resto das tábuas dum porão.
Não há felicidade sem loucura
extase ,abstração, o paraíso
existe para quem nele procura
intervalos do mundo e do juizo.
o louco, o ébrio, o fumador, o vício,
apenas vida na diversidade,
são excepção, um pequeno orificio
na oficina da eternidade.
o célebro é imenso e complexo
é massa da mentira e da verdade
que nos sustem a virose do nexo
em luta desigual num campo imenso,
uma face de bem outra maldade
mistura de loucura e de bom senso.
Será loucura o que te arrasa o peito
ou desejo brutal de sofrimento,
porque te esqueces no esquecimento
do teu mundo pequeno e imperfeito?
que castigos germinas nas artérias
onde te corre sangue e respirar,
para te desfazeres a duvidar
de experiências de amor, simples, sérias?
que prazer te condena e dilacera
a carne já de si dilacerada,
para te sacrificares ferida, magoada,
como vítima atroz,cega e austera,
em vida que fazes de vagabunda
no pensamento inutil que te inunda.
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