Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Neve de Goteborg que me tens
reduzido ao que sou frio calado
a janela da rua os armazéns
um olhar comedido camuflado
ficou mais noiva a noiva da cidade
no manto que entretanto se refez
árvores que a noite faz claridade
barcos que se recortam no convés
leva-me a floresta os pensamentos
que os percorro só silenciado
neve que cai por mim por uns momentos
a maior parte cai por todo o lado
eu próprio vou calcando movimentos
umas vezes andando outras parado.
A cidade são pedras e calçada
velhas e largas a mostrar canais
transeunte perdido entre os demais
vasculhei cores janelas e arcadas
da nudez da sereia mais que usada
cravei uma tuborg a marginais
e visitei Cristiana onde entre os quais
te vi em liberdade pincelada
não tenho rei não vi nem tenho margem
tão enganado como estou sou vida
por ela recusei-me sou viagem
pedaços de chegada e de partida
entre ladrões exerço vadiagem
esse é meu ermo e minha despedida.
Ondas que vem e vão tantas eu tenho
rolando em seixos sobre impaciência
despejando na praia turbulência
dentro da tempestade onde me amanho
ondas que do mar vem tão indistintas
em corpos desnudados divididos
pulsam vulcões nas margens sem sentidos
lavas arrefecidas e famintas
um dia esperarei numa cidade
de picos rubros e rochedos crus
pelos bens próprios do tempo na verdade
na ânsia onde o desejo nos conduz
sentado de calções azuis saudade
na tua sombra algures que me seduz.
Abri a porta ao dia entrou o vento
o eclipse foi-se não o li
chegou nevoa tapou o firmamento
e sem luar do tempo me esqueci
eram dez da manhã consentimento
dum olhar sobre as órbitas perdi
do exato lugar o seu momento
á hora que contou abstraí
foi para não ver o sol que me embriaga
berçário do meu sonho tutelar
não sou da luz um filho mas a praga
que qualquer astro rei espalha no ar
particula do fim que aquece e esmaga
o momento fugaz deste lugar.
Quando me deito e deixo o dia atras
ou espero a noite que não sei quando vem
quero agarrar a luz e ser capaz
de prolongar fotões que me mantém
ocorrem-me á memória coisas fúteis
desenho pela mente corpos beijos
minguar que há do prazer dias inúteis
mistura sem concerto de desejos
clareia em luz um circulo a lua
faixa de luz reciclada aos molhos
rebenta grades que separam a rua
dos teus cabelos brancos dos teus olhos
e sem parar a vida continua
sem arredar o lixo nem os escolhos.
Hoje na madrugada que findou
ouvi os sinos da torre da igreja
pulei do sono onde ainda estou
num terramoto que me fere e beija
depois do áureo e frio amanhecer
deste inverno sedento esfomeado
o que de resto veio a acontecer
foi prosseguir sonhando e acordado
espécie sem horário num vazio
dum caos de pensamento introspecção
na deriva do senso e desafio
ás leis que nos parecem e não são
fixei tarde o sol no pau do fio
metamorfose fresca da razão.
Correm por mim as horas os minutos
os dias debruçados e assim
errado julgo o caminhar sem fim
na conta destes dias dissolutos
me pergunto e duvido e nada sei
se acaso toco acima um infinito
cego de olhar surdo no próprio atrito
matéria ignorante onde pasmei
e dispo-me no tempo onde atravesso
a ruela vazia aonde moro
mudo de humor caminho do avesso
ás vezes não me sinto nem ignoro
sou um fio perdido do começo
a poeira dum pó, um pêlo, um poro.
Por entre a plateia me sustento
calado ao som final da idade breve
intruso entre os seus gestos me contento
a levitar num sonho calmo e leve
tenho na frente a virgem sem menino
tão nova e loira parece pintura
segurando entre mãos o violino
nele executa e mexe a partitura
e do silêncio vivo que me afaga
na harmonia que se abre ao nada
vejo o regato vir fraga após fraga
fugindo á floresta desnudada
tenho a virgem nos braços abraçada
e um capitel de flocos me embriaga.
Não consigo esquecer os olhos escuros
e o riso labial desconcertado
esse estado febril apaixonado
inconstância dos tempos inseguros
não consigo esquecer e perturbado
pelos frutos que de apanha são maduros
me turbo em pensamentos obscuros
num paraíso despropositado
lembrando os teus abraços de mudança
as malas ensaiadas sedução
que inquinada na duvida descansa
na púbis palpitando em minha mão
e os beijos resgatados temperança
nos espasmos repetidos da paixão.
Se fossemos amantes quanto amada
seria a tez que tens , cumplicidade,
quanto acrescentaria a coisa dada
aos motes do prazer e da vontade
se fossemos amantes libertada
a tua rosea face e branco seio
seria infindo aquilo que era nada
nesta surda paixão que em mim refreio
se fossemos raiz dessa aventura
tida por nós , mantida ,ah pois sim creio
seria eterna a chama e a loucura
se fossemos amantes e enleio
de corpos nus na alma ,na figura,
não restos dum encontro de permeio.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.