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Por entre a plateia me sustento
calado ao som final da idade breve
intruso entre os seus gestos me contento
a levitar num sonho calmo e leve
tenho na frente a virgem sem menino
tão nova e loira parece pintura
segurando entre mãos o violino
nele executa e mexe a partitura
e do silêncio vivo que me afaga
na harmonia que se abre ao nada
vejo o regato vir fraga após fraga
fugindo á floresta desnudada
tenho a virgem nos braços abraçada
e um capitel de flocos me embriaga.
O meu país é mar e comedoiro
fugaz, escancarado e sem sustento
é barril de galego alma de moiro
o meu país é um adiamento.
o meu país é fossa, sumidoiro
a quem lhe quer é brusco e é tormento
espantoso milagre , ancoradoiro
é a deriva que o traz ao vento.
o meu país tem face inacabada
por mão de artista não de timoneiro,
o rumo que persegue é na coutada
de si próprio, carrasco , prisioneiro,
o meu país que é tudo não é nada
não passa de um quintal todo porreiro.
São paredes de rocha dilacerada
nem se lhes pode discutir o ser,
são existência e são também o nada
são um olhar mas não o entender.
são tão visíveis como a virgindade
que a natureza guarda no seu peito,
não possuem diário nem idade
vestem-se nus e de prumo direito.
nascem ervas, flores, vida perdura
em extremos de perene criação
granítica matéria que a brancura
ora esconde em abraço ou em prisão,
na talha da razão vive a cintura,
que lhes rodeia toda a solidão.
No forno atómico que é o universo
tremendamente grande e tutelar
me encontro, me pergunto e me disperso
entre negro vazio e pó estelar.
ensaio fictício e adverso
fado ruim do fútil caminhar,
vendo-me, em consciência, a cada verso
que não é verso, é busca e é remar.
na cinza da argamassa o prumo é nada,
nada parece haver para aprumar,
sendo isto mar não existe enseada
sendo infinito não existe voltar,
logo à esquina da rua ,que é caiada,
se me encobre a vista e o pensar.
Se viajasse aos limites do mundo
num telescópio ou acelerador,
gostava de encontrar-te, meu amor
no espaço tempo , ainda que um segundo.
nesse algures, ele existe, quem diria
que ao cruzarmos, talvez uma miragem,
se pudesse travar numa abordagem
manuseando a massa de energia.
e voltar a viver noutro horizonte
indeterminação que a nossa fonte
esterilizou em estranha nostalgia,
para ir ao restaurante sem ter medo,
que os amigos descubram o segredo
do amor que na terra em nós parecia.
No acelerador do fim do mundo,
o chegar ao início, explicará,
do universo o sentido profundo,
da energia e tempo que será ?
em viajar constante , nós seremos
quem sabe, luz ou massa, ou ilusões,
por tudo quanto amamos, quanto temos
pode passar um fio de fotões ?
podemos ser até velocidade
deambulando em gazes estelares
passar por aqui, talvez felicidade
que pode não haver noutros lugares,
e pode haver no fim um precipício
e mesmo o próprio fim, não ter inicio ?
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