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Chega tarde o Natal em versos, odes,
lenda de minha trama evoluiu
não há menino, palha, nem Herodes
morto de vez em terra se sumiu.
nem sei bem onde fica a Galileia
para lá de Gaza, a faixa , e de saber
se o caos que agente tem é á boleia
se nele há gente feita ou por fazer.
á noite, fora, a luz da lua é fria
apara-nos a febre e o parecer
não nascem pobres deuses, porque havia
um pobre e velho deus reaparecer
quando há tanto Jesus em agonia
e tantos mais ainda por nascer !
Vindos de cinzas, deuses não, seremos
filhos de sois que o hidrogénio prende,
do cosmos , do vazio, percorremos
uma onda de luz que nos surpreende.
a minha nave avança, a esfera, a rota
em mar de caos incerto, curvatura
da Próxima Centauro, tão remota
que me alonga o corpo e transfigura.
se te encontrar Maria, o universo
deste meu presumir de vagabundo,
poderá dar-te a mão num vão disperso
de janela qualquer no fim do mundo,
além dum túnel negro e adverso
e dentro dos teus olhos, que eu inundo.
É noite de natal, arde a madeira
são veios de carvalho retalhados
repartem-se em calor, fogo, á lareira,
remanescencia dos antepassados.
o frio está lá fora ,o azedume
corre por mim, talvez leviandade
ver o natal num grito, num queixume,
por quem morre de fome e de verdade,
por quem vive servil na ignorância,
quem se abusa por outro, á escravidão,
quem se perde na falta duma esperança,
quem se aluga pelo valor dum pão,
ou quem se prostitui pela abundância
calcando aos pés o homem, seu irmão.
Se hoje fosse dia de Natal,
mas não é, oferecia-te uma flor,
talvez no teclado e virtual
pedisse um beijo, um beijo com amor.
não acredito no menino Jesus,
porém creio em meninos todos os dias,
são eles todo o homem que produz
o amanhã , depois, depois e crias.
acho o natal uma festa pagã,
e tão de fora do nosso próprio ser,
como uma cesta de ovos, sem os ter.
dizer natal, natal, é coisa vã,
se em qualquer outro dia acontecer
será que outro natal não pode ser ?
O dia de natal é tão diário
como outro dia é dia qualquer
não mais que convenção num calendário
como o nome dum homem ou mulher.
o dia de natal tem existência
para sustentar enganos , sucção
de quem rouba do mundo a inocência,
de quem fomenta guerras e exclusão.
o natal não é sonho nem é quente,
muito menos é dar, é sofrimento,
é mentira, negócio, aviltamento.
pois se houvesse natal, naturalmente
na mente , instinto em nós, amor seria
que a cadeia dos genes transmitia.
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