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Como um agrimensor tomo as medidas
com cuidados formais de bem fazer
apesar de saber por mim vividas
as animicas musas a ceder
tudo tem o seu ponto, as enseadas
nem sempre são perfeitos areais
pois se há tudos no ser também há nadas
sonhos contados,outros irreais
caminho minha via sem espavento
a cada hora ou dia sufragado
se afrouxa na largura do momento
a história do futuro ignorado
o presente de cada movimento
tem o devir a ele já colado.
HOJE
Vou pelo mundo sem saber que mundo
encontro na manhã que se aproxima
um universo espesso e tão profundo
como a luz que de baixo vem de cima
Avanço devagar que vou calado
silencioso andar do ser que sou
caminho o meu lugar por qualquer lado
ignorando o sítio por onde vou
Sabendo ousar haver sonhos pequenos
cobrar dos afazeres necessidades
logrando saber mais, sei que sei menos
vestido no meu fato de saudades
o tempo da mudança sabe menos
porque há menos mentiras, mais verdades.
Neve de Goteborg que me tens
reduzido ao que sou frio calado
a janela da rua os armazéns
um olhar comedido camuflado
ficou mais noiva a noiva da cidade
no manto que entretanto se refez
árvores que a noite faz claridade
barcos que se recortam no convés
leva-me a floresta os pensamentos
que os percorro só silenciado
neve que cai por mim por uns momentos
a maior parte cai por todo o lado
eu próprio vou calcando movimentos
umas vezes andando outras parado.
A cidade são pedras e calçada
velhas e largas a mostrar canais
transeunte perdido entre os demais
vasculhei cores janelas e arcadas
da nudez da sereia mais que usada
cravei uma tuborg a marginais
e visitei Cristiana onde entre os quais
te vi em liberdade pincelada
não tenho rei não vi nem tenho margem
tão enganado como estou sou vida
por ela recusei-me sou viagem
pedaços de chegada e de partida
entre ladrões exerço vadiagem
esse é meu ermo e minha despedida.
Estradas desertas quando volto ao berço
pontes em Roma, Londres ou Paris
numa sala de espera sou um xis
uma fracção que resta, meio ,terço
viajo, viajar é meu sustento
natural e mecânico que a vida
é um guiar sem carta, sem instrumento,
de portas sempre abertas á partida
neste vazio ser, rota global
uns dias são outros são esquecimento
ás vezes estou por ser irracional
outras vezes é na razão que aguento ,
reunindo os haveres tudo é igual
quando as estradas desertas são de vento.
A revolucão passou pela avenida
expondo os estandartes desfraldados
vento dando nos panos levantados
pela banda da cidade precedida
o deus Poseidon riu do pedestal
habituado ao cíclico aparato
os discursos os gritos e o ato
o mesmo términus na internacional
quarenta anos vivos de glórias
não cumpridas na esperança persistente
porque só esta existe descontente
das promessas banais alienatórias
a revolta foi fama apenas histórias
para enganar a fé de toda a gente
Ondas que vem e vão tantas eu tenho
rolando em seixos sobre impaciência
despejando na praia turbulência
dentro da tempestade onde me amanho
ondas que do mar vem tão indistintas
em corpos desnudados divididos
pulsam vulcões nas margens sem sentidos
lavas arrefecidas e famintas
um dia esperarei numa cidade
de picos rubros e rochedos crus
pelos bens próprios do tempo na verdade
na ânsia onde o desejo nos conduz
sentado de calções azuis saudade
na tua sombra algures que me seduz.
Desta alegria canta a aparência
canta o poeta eterna partitura
a natureza e a manifesta essência
do primeiro vestir de criatura
escreve poeta agita a turbulência
na emotiva peça da loucura
canta as flores e vive a insolvência
da substância amarga da aventura
canta e sublima a voz da primavera
que se refaz seara criativa
canta o sol o perfume a atmosfera
os princípios do acaso que é a vida
canta poeta o sonho e a quimera
que da morte regressa renascida
O muro que me separa de mim
alto e silencioso ao comprimento
multiplica-se e fecha-se sem fim
volta sempre á origem do meu senso
tem portas que não abrem nem as penso
odorosos perfumes de jasmim
são o que são e soltas no meu lenço
fechadas e seladas são assim
e sei que sendo eu pequeno e breve
como mínima parte do cordão
tomo e deixo as soleiras ledo e leve
como efémera bola de sabão
na pequena existência que se deve
a poeiras e pó de combustão.
Abri a porta ao dia entrou o vento
o eclipse foi-se não o li
chegou nevoa tapou o firmamento
e sem luar do tempo me esqueci
eram dez da manhã consentimento
dum olhar sobre as órbitas perdi
do exato lugar o seu momento
á hora que contou abstraí
foi para não ver o sol que me embriaga
berçário do meu sonho tutelar
não sou da luz um filho mas a praga
que qualquer astro rei espalha no ar
particula do fim que aquece e esmaga
o momento fugaz deste lugar.
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