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O meu país é mar e comedoiro
fugaz, escancarado e sem sustento
é barril de galego alma de moiro
o meu país é um adiamento.
o meu país é fossa, sumidoiro
a quem lhe quer é brusco e é tormento
espantoso milagre , ancoradoiro
é a deriva que o traz ao vento.
o meu país tem face inacabada
por mão de artista não de timoneiro,
o rumo que persegue é na coutada
de si próprio, carrasco , prisioneiro,
o meu país que é tudo não é nada
não passa de um quintal todo porreiro.
Voltei ao mar, voltamos sempre ao mar
este país sem fim em tudo é sal
e na praia se morre a divagar
na borrasca que varre o areal.
é naufrágio, constante naufragar
é a matriz , é mãe, um matagal
e tanta vez nos mata por matar
que ser órfão, aqui, é o normal.
talvez nos mova toda a insensatez,
seja demais a fome de sofrer,
não que seja este espaço a escassez
mas seja a escassez farto viver
em Portugal ,não para o português
mas para tanto ladrão que anda a comer.
O cigarro entre os dedos, o morrão
a cair sobre folhas de papel
perdidos na bancada , do melão,
três pelos sobre a orla de pincel.
por baixo a Bola, jornal de digestão,
bíblia e lume , suprema inteligência,
parece espelho , porca de nação
tão magra que se vê á transparência.
assim seja, silêncio, afinidade
á louvação do sim, não faz sentido,
numa trincheira aberta á cavidade
como osso sem cão ao cão estendido,
será a vida prisão ou liberdade,
ou apenas ganhar mesmo vencido???
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