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Abri a porta ao dia entrou o vento
o eclipse foi-se não o li
chegou nevoa tapou o firmamento
e sem luar do tempo me esqueci
eram dez da manhã consentimento
dum olhar sobre as órbitas perdi
do exato lugar o seu momento
á hora que contou abstraí
foi para não ver o sol que me embriaga
berçário do meu sonho tutelar
não sou da luz um filho mas a praga
que qualquer astro rei espalha no ar
particula do fim que aquece e esmaga
o momento fugaz deste lugar.
Quando me deito e deixo o dia atras
ou espero a noite que não sei quando vem
quero agarrar a luz e ser capaz
de prolongar fotões que me mantém
ocorrem-me á memória coisas fúteis
desenho pela mente corpos beijos
minguar que há do prazer dias inúteis
mistura sem concerto de desejos
clareia em luz um circulo a lua
faixa de luz reciclada aos molhos
rebenta grades que separam a rua
dos teus cabelos brancos dos teus olhos
e sem parar a vida continua
sem arredar o lixo nem os escolhos.
Sou um tipo danado digo ás vezes
de mim para mim portas atravessadas
não gosto de cenouras nem chineses
e sou silva de nome em papeladas
não tenho sorte ao jogo e dos amores
contra o jargão o dom é impreciso
teimoso resmungão e nos sabores
um curioso autor do improviso
nesta banalidade estabelecida
pela genética herdada dos avós
ancoro o bote ao cais duma partida
e parto sem partir da minha foz
enquanto enrolo o tempo e esta vida
num verso num café calando a voz.
Correm por mim as horas os minutos
os dias debruçados e assim
errado julgo o caminhar sem fim
na conta destes dias dissolutos
me pergunto e duvido e nada sei
se acaso toco acima um infinito
cego de olhar surdo no próprio atrito
matéria ignorante onde pasmei
e dispo-me no tempo onde atravesso
a ruela vazia aonde moro
mudo de humor caminho do avesso
ás vezes não me sinto nem ignoro
sou um fio perdido do começo
a poeira dum pó, um pêlo, um poro.
Se fossemos amantes quanto amada
seria a tez que tens , cumplicidade,
quanto acrescentaria a coisa dada
aos motes do prazer e da vontade
se fossemos amantes libertada
a tua rosea face e branco seio
seria infindo aquilo que era nada
nesta surda paixão que em mim refreio
se fossemos raiz dessa aventura
tida por nós , mantida ,ah pois sim creio
seria eterna a chama e a loucura
se fossemos amantes e enleio
de corpos nus na alma ,na figura,
não restos dum encontro de permeio.
Frágil e velha barca se adormeço
me vou por ti sem leme e sem rumar
nos atilhos do cais sem endereço
finjo ser o partir sou o ficar
sem bussola na bruma onde me esqueço
de onde é o norte e a estrela polar
navego o nevoeiro denso e espesso
nas memórias que tenho a naufragar
rasgo do vendaval a violência
desprovida de vento e de razão
já marujo não sou nem experiência
nem o delírio à solta dum tufão
regresso sem partir á procedência
sobre o resto das tábuas dum porão.
De regresso ás ondas,de retorno ao mar
a barcos parados de mareação
sentado na praia estendo o divagar
pelas serenas águas e sonhos que são
O sol vespertino que gira incendeia
a linha quebrada dos montes ao rubro
e eu, o que faço , agarro a sereia
que trago comigo e dela me cubro.
saltita nas pedras no branco da espuma
são gotas de pérola no seu cintilar
num raio de sol batendo na bruma
na gávea dum barco que vai a passar
e a noite cerrada, de parte nenhuma
sorrindo se espalha pelo meu olhar.
Um soneto para ti, estás tão longe
e não te posso ver nem te falar
prometi-me ao silêncio como monge
rezo por ti mas sem crenças de altar
não tenho um oceano a impedir-me
mas minha companhia é como o pó
navegas entre o ver-me e o fugir-me
perto do telefone, mas estás só.
talvez que mesma rota seja a tua
das que me queixo, herança de te ter,
também estando em casa quero a rua
sobre o calor a ânsia do chover,
almas de lava pela rocha nua
na amarga rota do sobreviver.
Passava a saltitar pulando a rua
em que ali estava eu vendo o seu passo
acendia o meu sol no seu regaço
como se o dia fosse á luz da lua
em aquele minuto de harmonia
quimérica razão no meu mar jónico
explodia de amor amor platónico
a idade que em mim se entontecia
aconteceu que num minuto apenas
deixei de a ver surgir pela manhã
o que esperei foi esperança sempre vã
chovendo em mim dilúvio de mil penas
foi uma historiografia de morenas
faces trigueiras tintas de romã.
Tão frívolos encantos eu sustento
no remo da maré desta passagem
que já marquei de volta outra viagem
quer esteja frio ou assobie o vento.
a gélida carcaça da coragem
onde me aqueço á vida, onde me tento
ainda é dentro calor, aquecimento
o sonho igual á primeira mensagem.
não digo adeus, apenas sigo a estrada
o comboio que vai é o que vem
vou vazio de mim, não levo nada
vou como todos os outros e ninguém,
tenho no bolso um mapa, uma morada
onde por certo há-de morar alguém.
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